quarta-feira, 13 de maio de 2015



Após um bom café da manhã no hotel Cabaña Quinta (muito bom, mesmo), sai para fazer o SOAT, uma espécie de seguro obrigatório peruano, similar ao nosso DPVAT e obrigatório segundo me informaram na aduana peruana. Havia uma seguradora que fazia a apenas duas quadras do hotel e o processo é bem rápido. O valor é de US$35 para 30 dias.

Como fui a pé fazer o SOAT, pude observar melhor a cidade de Puerto Maldonado. O trânsito é basicamente 90% de motocicletas de baixa cilindrada e tuc-tucs. Parecem um enxame de abelhas em todas as direções. A maioria são moto taxistas. o interessante é que somente o piloto da moto é obrigado a usar capacete, o garupa não rs. Eles usam um capacete que parece aquele modelo nazista, que chamam de casco, e usam sem amarrar nem nada... Nas motos há de tudo, famílias inteiras com Pais e dois ou três crianças, grávidas com bebês de colo, mulheres sentadas de lado.
Vi uns modelos de moto inexistentes no Brasil e mais interessantes, como a Honda CBF 150 monoamortecida na traseira e a Yamaha R15.



Por curiosidade, perguntei o preço de um tuc-tuc Honda novo: 5.800 soles, o que dá mais ou menos 5.800 reais. Vi DT180, Bros, Tornado, mas a grande maioria é motos xing-ling mesmo.
Fiz o primeiro abastecimento no Peru. Eles chamam os postos de Grifo. Tirando alguns poucos com aparência melhor, no geral são somente a bomba de combustível e às vezes o chão é de terra. A gasolina é vendida em galões e não em litros, o preço é equivalente ao do Brasil, com um detalhe: não há adição dos 27% de álcool nem solventes (espero rs). Tem dois tipos de gasolina: 84 octanas e 90 octanas.
Decolei para um dia de grande desafio: cruzar a Cordilheira dos Andes, que em alguns pontos tem altitudes acima de 4.800 metros. Eu tinha uma Grande preocupação sobre como a moto se comportaria nessa atitude, com ar rarefeito. Na saída de Puerto Maldonado, o GPS programado para a cidade de Cusco ficou louco e me mandou para a direção errada. Rodei uns 10 km errados até perceber. Existem pouquíssimas placas indicativas, mas na base de quem tem boca vai a Roma, eu encontrei o rumo certo.


A estrada é pedagiada, mas motos não pagam pedágio (obaaa). A estrada continuava igual, muitas vilas bastante pobres e seus quebra-molas. Na altura da Sierra Santa Rosa ficou mais divertido, curvas bem legais de fazer numa estrada vazia com asfalto bom.
Próximo das 14 horas e antes de subir a cordilheira, vi um restaurante com aspecto bom e resolvi parar. Restaurante Costa Verde. Atendia também aos trabalhadores das obras da estrada, e vi algumas coisas da odebrechet lá. Comi um polo com papas fritas (filet de frango com batata frita) e tomei uma coca por 10 soles. Estava ótimo.



Foi assim até a estrada começar a acompanhar o leito de um rio, com grande volume de água, às vezes assoreado, às vezes corredeiras sobre pedras, num visual bem legal. Em grande parte a estrada corria espremida pelo rio e muralhas de pedra e matas. Os deslizamentos de pedra eram constantes e havia muita manutenção na estrada nesses pontos, alguns com pare e siga.
Em certos trechos da estrada, e foram muitos, haviam depressões na pista que eram propositais para que a água que descia da montanha corresse por cima da estrada. Tipo assim, você vem na estrada e de repente tem um pequeno córrego atravessando a pista. São perigosos porque a presença de lodo e água podem ter fazer cair.
A chuva começou a me acompanhar, o visual era fantástico, o rio corria por um vale é a estrada serpenteava entre o rio e as montanhas. Muitas vezes tinha vontade de parar e fotografar, mas havia um horário limite para subir/descer a cordilheira devido ao frio. Antes de começar a subida o GPS indicava a altitude em 250m.
Começou a subida da cordilheira com muitas curvas no formato de U, a temperatura ia caindo e a altitude subindo rápido: 1800m, 2300m, a moto continuava com funcionamento redondo e o visual era de tirar o fôlego, parecia um filme. Quedas de água de centenas de metros, pequenos rios com corredeiras e picos com neve. A partir dos 3.000m de altitude a moto começou a perder rendimento. Passei pela cidadezinha de Marcapata, que fica a 3.200m de altitude, pendurada nas montanhas da cordilheira. A subida era muito lenta, rodava a 40/50 km/h e vez por outra pegava um veículo lento e os pontos de ultrapassagem eram poucos.


Entrei numa forte neblina subindo bem rápido, mas quando olhava para cima, via o sol nas partes altas da montanha, enquanto fazia as curvas olhava para trás e via a estrada como um grande caracol descendo a cordilheira. Era de arrepiar.
Vi pela primeira vez um rebanho de lhamas. Eram tocadas por um cara pela estrada abaixo.
Acima dos 4.000m de altitude eu tinha dificuldade em andar a 40 km/h, isso com o motor a 6000 RPM. O frio era intenso e, apesar de estar muito bem preparado, com roupa térmica, segunda pele, jaqueta com proteções térmicas, balaclava segunda pele, luva segunda pele e por cima luvas de frio/chuva, as minhas mãos queimavam como se estivessem no fogo. Tinha dificuldade para acelerar. Que falta faz um aquecedor de manoplas rs.


Passei pelos pontos mais altos da cordilheira no lusco fusco, com as placas indicando 4.717m e 4.815m de altitude. Em certos pontos havia um vento intenso que aumentava a sensação de frio, mas minha roupa suportava bem. Nem
Parei para fotografar as placas, pois tinha medo da moto apagar e não pegar mais. A noite também se aproximava. Quando olhava para os lados, via as partes com neve que eu havia visto lá debaixo.
Comecei a descer. Ufaaaa. A descida era menos íngreme que a subida e as curvas eram mais abertas. Até que a altitude estabilizou em 3600m. Passei por algumas vilas e numa delas parei num grifo e abasteci. Estava muito frio ali também.


Com a chegada da noite, antecipei minha parada, e acabei aterrissando na pequena cidade de Urcos, em um hostal com quarto privativo e wi-fi (que não funcionou) por 35 soles. Fiquei sem contato, mas após muitos quilômetros rodados e frio intenso, foi como chegar num oásis.

Se valeu o dia? Eu atravessei a cordilheira dos Andes de moto, preciso falar mais? já valeu a viagem... Nunca mais esqueço o que vi... E tem muito mais por vir... Obrigado ao cara lá de cima.

Todos os dias da aventura foram descritas em um diário que pode ser visto nos links abaixo:

Diários:


Vídeo: