sábado, 30 de maio de 2015



O último dia de uma grande viagem de moto é um dia muito especial e também de grande ansiedade. Foram 25 dias na estrada, 5 países, 5 moedas diferentes, paisagens incríveis, contato com costumes, hábitos e culinária desses povos.
Você vem com milhões de novas idéias, vem ainda curtindo tudo que viu e viveu nos dias de aventura e também controlando a ansiedade, vontade de estar logo em casa e lidando com o cansaço acumulado de tantos dias na estrada.
Acordei em Jaboticabal (SP), com o cansaço me dominando, os três trechos anteriores na Argentina, Paraguai e Paraná foram feitos debaixo de muita chuva, o que tornou a pilotagem tensa e cansativa. No café, tomei uma decisão muito importante: ao invés de seguir pra BH, iria descansar um dia ali e seguir no dia seguinte. É uma decisão difícil, mas muito importante. Não se pilota uma motocicleta cansado ou estressado. Em 2010 sofri um acidente pois não reconheci que era hora de parar a moto devido às condições do tempo e seguir no dia seguinte.
Pouco sai do hotel, fiquei ali realmente descansando para fazer o último trecho tranquilo. Além de descansar, fui ajudado pelo tempo, que abriu no dia seguinte e se transformou em um dia perfeito pra pilotar. Me lembrei de tomar um sorvete ice muito bom que tem no shopping local.
A estrada já conhecida e é perfeita e pedagiada. Não se paga pedágio em SP, mas em Minas paga-se R$ 2,10 para moto.
Havia bastante trânsito nos 2 sentidos da estrada.
Depois que passei pela divisa de São Paulo com Minas Gerais, fui recebido pelas montanhas de Minas e, claro, muitas curvas. Respirei fundo o ar de Minas e pensei: Como é bom me sentir em casa.
Um dos pontos altos é o trecho da estrada que margeia o lago de furnas, o mar de Minas. É muito lindo o visual e existem ali restaurantes com vista para o lago. Fantástico.
A emoção de começar a ver o nome de Belo Horizonte nas placas indicativas de distância, quando se andou tão longe, vai potencializando a vontade de chegar.
E assim fui, acelerando e controlando a ansiedade, até estacionar a moto na garagem e pensar: agora realmente cheguei. Que aventura. Obrigado meu Deus.

Todos os dias da aventura foram descritas em um diário que pode ser visto nos links abaixo:

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Salar de Uyuni - Deserto de Sal - Bolívia

quarta-feira, 27 de maio de 2015

"Maria yo sé que usted treme! Tener em casa a tu papá"
Antes de sair de Campo Mourão, uma cidadezinha bem legal no interior do Paraná, eu precisava ver umas coisas na Capitão América. A relação não estava legal, o pedal de câmbio não dava mais aperto e não chegaria a BH, e já estava na hora de trocar o óleo do motor.

Haviam várias oficinas e moto peças na cidade e até uma concessionária Honda. Encontrei a relação para trocar e o pedal também. A relação havia acabado aos 10.000 km. Foi muita chuva, estrada de rípio e o deserto de sal. Os dentes da coroa estavam completamente tortos.
Com isso acabei atrasando muito minha partida e a estrada à noite seria certa.
Sai de Campo Mourão sem chuva, por uma estrada muito boa e muito movimentada. Plantações de milho e soja a perder de vista e muitos pastos. Chegando próximo à cidade de Maringá, a chuva veio forte e não parou mais até São Paulo.
Saindo do estado do Paraná, paguei o pedágio mais caro de toda a viagem, R$6,90 para motos. Poucos metros após estava a divisa Paraná com São Paulo. Alguns trechos ruins, mas depois a estrada virou um tapete. Mesmo com a chuva persistente, o ritmo era bom. A estrada era pedagiada, mas moto não paga (ufaaaaa).
Faltando cerca de 50 km para Ribeirão Preto, eu passava por Jaboticabal, cidade que já conhecia, e resolvi aterrissar e descansar da chuva.



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"Lo que teníamos en común: nuestra inquietud, nuestro espíritu soñador, el incansable amor por la ruta."

À noite foi de chuvas fortes em Foz do Iguaçu, amanheceu muito nublado, mas sem chuva. Um bom café da manhã e fui pegar a moto para continuar viatgem. No estacionamento do hotel, as BMWs faziam companhia à capitão América. Olhando melhor, vi que além de GS1200 e F800GS haviam muitas do modelo F700GS, inexistente no Brasil. Outro detalhe: as motos chilenas tinham placa dianteira fixada por dentro da bolha (risos).

Parti em direção às cataratas do Iguaçu. São 14 km do centro de Foz, mas não é permitido entrar com veículo particular e o estacionamento de motos não oferecia segurança pra deixar a capitão América com bagagem. Tirei uma foto pra registro e parti rumo a Campo Mourão (PR). O céu sem chuvas ainda estava muito carregado.

Cerca de 70 km rodados e a chuva veio com muita intensidade e me acompanhou por 150 km. A estrada, que começou com boa pista duplicada e pedagiada. Paguei R$ 21,70 pra rodar 300 km naquela estrada paranaense. No Peru, Bolívia, Argentina e Paraguai rodei em estradas pedagiadas, mas onde motocicletas não pagam. Pouco depois virou pista simples, mas boa pavimentação e muito trânsito.

Mais à frente à chuva parou. A paisagem tinha plantações de milho e soja a perder de vista e muitos pastos com gado Nelore. São lindas as terras paranaenses, com muito plantio a exemplo de Goiás e Mato Grosso.

Fui recebido em Campo Mourão por um belo pôr do sol que registrei.
Os últimos 20 km foram bem devagar. Vim lidando com dois problemas na moto: o pedal de câmbio, que bambeou de vez, e a relação, que desgastou muito e já não oferecia mais possibilidade de ajuste (será necessário reduzir a corrente com a retirada de elos).
Tive dificuldade para encontrar um bom hotel. Os dois primeiros estavam lotados e o que consegui tinha o último quarto vago. Amanhã, uma visita à oficina para, além de ajustes, troca de óleo do motor e depois muita estrada rumo a São Paulo.

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terça-feira, 26 de maio de 2015

"Pensamos demasiadamente e sentimos muito pouco. Necessitamos mais de humildade que de máquinas. Mais de bondade e ternura que de inteligência. Sem isso, a vida se tornará violenta e tudo se perderá." (Charles Chaplin).

Nesse 21º dia de viagem percorri 334 km com muita chuva e muito trânsito. Parecia que eu havia percorrido no mínimo o dobro de quilômetros. No total foram 8.837 km percorridos desde que iniciei a minha viagem de moto pela América do Sul.
Após uma volta a pé pelo centro de Assunção, voltei ao hotel para o checkout e, quando ia sair, já no estacionamento do hotel, o Francisco veio se apresentar. É um motociclista que integra o MC Cavaleiros Templários aqui do Paraguai. Eles fazem um dos maiores eventos motociclísticos daqui do Paraguai. Conversando com ele, me mostrou fotos no evento de Laguna-SC com sua Kawasaki ZX14, que agora foi trocada por uma BMW GS 1200 2015. Disse que a velocidade levou dois amigos e que por isso ele mudou de categoria de moto. Quando nos despedimos, ele comentou que o hotel era do sogro dele. Ai pensei porque o cara não me falou isso antes que eu pagasse a conta (risos). Ele me passou um cartão pessoal e disse que qualquer problema no Paraguai eu poderia aciona-lo. É a irmandade que o motociclismo proporciona e que não tem fronteiras, muito legal.

Parei em um posto Petrobras para abastecer. Talvez seja a maior rede de postos de Assunção. E o melhor é que a gasolina não é a brasileira, com 27% (ou mais) de etanol. Curioso que em todo posto da Petrobras vi também caixas eletrônicos do Itaú. Nesse posto tomei uma Fanta Guaraná (risos).


O trânsito de Assunção não chega a ser tão louco quanto o de Urcos no Peru e La Paz na Bolívia, mas exige cuidado. Os ônibus são velhos, normalmente caminhões adaptados soltando muita fumaça de diesel e andam muito rápidos.
Saí por uma via expressa da cidade. Começou uma chuva fina, e o trânsito estava bem carregado. Com o abastecimento que fiz não precisaria reabastecer, então a ideia era rodar sem parar até a fronteira com o Brasil.
Fazia calor, a temperatura estava a 26, graus mesmo com céu nublado. Eu já havia tirado no hotel todas as proteções térmicas das minhas roupas e também havia guardado na moto a capa de chuva, mas aquela chuva fina até que estava refrescante. Assim, enfrentando o trânsito e curtindo a chuva, após mais ou menos uma hora, consegui deixar Assunção.
A estrada era simples, mal conservada e com trânsito intenso. Muitos bi-trens trafegando e poucos pontos de ultrapassagem. Após alguns quilômetros a estrada passou a ser concessão (privatizada) e melhorou um pouco.
O céu à frente era negro e carregado. Olhando a estrada, via que ela ia direto em direção às nuvens mais negras. Parei a moto já com a chuva apertando para vestir a capa de chuva. Ao largo da estrada, flores amarelas nativas e plantações de milho e pastos a perder de vista.

Entrei na chuva e ela veio forte. Não dava trégua, pouca visibilidade e muito spray de água das carretas que passavam e que seguiam à minha frente. Ativei o modo de pilotagem segura e, curtindo um bom rock, fui pilotando de forma quase que automática, bem tranquilo mesmo.
Na medida que me aproximava da fronteira brasileira, ia relembrando algumas passagens dessa viagem, o pantanal e os muitos animais atropelados à beira da estrada, a Amazônia brasileira, as crateras na estrada entre Porto Velho e Rio Branco, a balsa sobre o Rio Madeira, a Amazônia peruana, a subida da cordilheira dos Andes a mais de 4.800m, as montanhas com neve ao meu lado na estrada, a energia de Machu Picchu, o lindo lago Titicaca, de águas azuis e os Uros, o teleférico de La Paz, o deserto de sal (Salar de Uyuni) impressionante, as milhares de lhamas pela estrada, paisagens fantásticas, os pivôs com neve, a neve à beira da estrada... Puxa, quantas coisas vi e vivi nesses pouco mais de 20 dias e vou levar pra sempre na minha memória. Meus pensamentos voavam longe. É muito para a agradecer ao Cara Lá de Cima por estar vivendo tudo isso.
A chuva persistia e a viagem não rendia. Andava a 80 km/h tomando muito spray de água. Anoiteceu e ainda faltava um pouco para chegar a Ciudad del Este, que faz fronteira com o Brasil em Foz do Iguaçu, e à ponte da amizade que liga os dois países.
Entrei em Foz do Iguaçu às 20 horas, após rápida passagem pela imigração Paraguaia. É bom estar no Brasil. Mesmo com tantos problemas é o nosso pais, é nossa casa, onde temos raízes. Você pode rodar todo o mundo, ver coisas fantásticas, mas ficará feliz ao chegar em casa.
No hotel, tive que lavar minha capa de chuva, as botas e a capa de chuva dos alforges. Era muito barro e sujeira de estrada devido à chuva.
Quando fui guardar a moto no estacionamento do hotel, um fato inusitado: haviam no estacionamento nada menos que 21 motos BMW alinhadas, a maioria GS1200 e algumas com placas do Chile, pensei: "- a capitão América faz jus estar aqui, tem no curriculum pelo menos 10.000 km pela América do Sul". Alinhei a capitão América com elas e deixei lá (risos). Tirei uma foto para recordação, mas ela não ficou boa.

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segunda-feira, 25 de maio de 2015

Acordei cedo com o intuito de rodar mais e recuperar a estrada perdida na noite anterior. Antes de sair, conversei com uns caras sobre futebol. Eram torcedores do River Plate e Boca, então foi aquela discussão por conta do último jogo entre eles (risos). O hotel não tinha desayuno, então tomei café na loja de conveniência de um posto, na saída da cidade de Monte Quemado.
A ideia era rodar muito e parar só para abastecer, com a intenção de chegar à cidade de Assunção - Paraguai.

A temperatura estava amena devido ao tempo nublado. Ótimo para pilotar.
Numa parada para abastecimento, o dono do posto era um argentino que morou 12 anos no Brasil e conhecia BH. Me deu boas dicas sobre a estrada.
Peguei algumas obras e rípio. Depois de Pampa del Infierno foram retas intermináveis em pista simples, mas boa. Eu passava na minha velocidade de cruzeiro de 110/120 km/h, imaginando em qual velocidade estaria ali se estivesse de Hayabusa (risos).
Um pouco antes da cidade de formosa, parei para abastecer e descobri que meus pesos argentinos estavam no fim, e o posto não recebia tarjeta. O frentista me deu a dica que no pueblo de Herrera havia um cajero automático, então lá fui eu atrás do caixa eletrônico. Rodei 10 km para entrar no povoado e cheguei ao caixa automático do Banco Formosa (risos), mas saquei os pesos direitinho com o cartão do Itaú.
Nesse posto aconteceu um dos casos mais engraçados da estrada: vieram dois argentinos conversar comigo e perguntar sobre a moto, a viagem etc. Um dos amigos perguntou, por exemplo, qual a cilindrada da moto, eu respondi 350cc. Aí o outro amigo soltou a frase: "uouuu Que Capacidad!!" Em seguida o primeiro perguntou sobre os faróis de milha de LED. Acendi para ele ver, ele falou "cega os ojos jajaja" e o outro amigo: uouuu Que Capacidad!!... Ele perguntou sobre a velocidade que eu andava na ruta: respondi 110km/h, o outro amigo: uouuu Que Capacidad !!.. hahahaha fui pela estrada rindo sozinho dessa dupla: Que Capacidad!!
A paisagem, a estrada e até os carros, faziam muito lembrar o Brasil. Ao longo da estrada, pequenas propriedades rurais com plantações de milho e criação de gado. É uma região muito plana e chama a atenção a altitude. O GPS indicava uma altitude que variava entre 50 a 70m em relação ao nível do mar. Altitude de cidade litorânea, ou seja, à beira mar, e eu estava no norte da Argentina.
Passei rápido por Formosa, seguindo para a fronteira com o Paraguai. A noite chegou quando ainda faltavam 200 km, mas a pista era boa até Assunção. A noite estava clara devido a uma meia lua no céu e as informações que obtive davam conta que era uma pista tranquila, sem ocorrência de animais ou outro perigo, então prossegui viagem.
Me chamou a atenção como a estrada estava vazia. Passei uma hora sem cruzar com nenhum veículo. Ficava pensando como uma estrada tão importante, que faz fronteira entre dois países, estaria assim tão vazia, comecei a desconfiar do GPS (risos). Mas de repente surgiu uma fila com centenas de carros seguindo no sentido contrário. Era como se estivessem bloqueados na estrada por algum pare e siga e depois foram liberados de uma só vez. Logo à frente descobri o motivo. Poucos quilômetros antes da fronteira, ainda do lado argentino, ao passar pelo posto de controle policial que existe na entrada de cada cidade, haviam cones fechando a pista. Parei nos cones e os policiais me fizeram sinal para avançar até eles. Passei entre os cones e parei a moto ao lado de quatro policiais. Então eles me explicaram que a Ruta estava cerrada por uma Manifestação poucos metros à frente, numa ponte. Me veio à cabeça o dia del paro que atravessei no Peru e toda a sua complicação. Ai estava a explicação para a estrada vazia e depois a centena de carros na estrada.
Os policiais me perguntaram de onde eu vinha e qual era o meu trajeto. Expliquei rapidamente sobre a viagem e eles sugeriram avançar devagar até a ponte e pedir permissão aos manifestantes para passar. Assim eu fiz e foi tranquilo. Haviam uns 50 manifestantes sobre uma pequena ponte, cercados dos dois lados por muitos policiais. Fui chegando e um senhor, ao ver que era uma moto estrangeira, fez sinal para eu passar.
Cheguei à fronteira com as lembranças recentes dos problemas na aduana Argentina na fronteira com a Bolívia, mas foi muito tranquilo. Em 5 minutos estava dentro do Paraguai.
Faltavam 40 km para Assunção. Olhando o horizonte, havia uma coloração avermelhada no céu, um visual muito diferente. Quando Cheguei mais perto vi que eram as luzes da capital paraguaia, refletidas nas nuvens que encobriam toda a região. Atravessei a enorme ponte sobre o rio Paraguai e cheguei ao centro da cidade.
Rapidamente achei meu hotel. Comi um sanduíche de lomito no próprio hotel e cama (risos).







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domingo, 24 de maio de 2015

Acordei no pior hotel de Jujuy e dei um jeito de sair logo dali. Não havia desayuno e, como era domingo, não encontrei muita coisa aberta na cidade. Por sorte, achei próximo uma espécie de sacolão, onde comprei umas frutas que deram um ótimo café da manhã.
San salvador de Jujuy fica numa altitude de 1.300m e agora eu partiria para uma região mais baixa ainda, o Chaco, uma região que fica abaixo dos 100m de altitude. A ideia era rodar até Pampa del Infierno, um local descrito pelos aventureiros como muito quente e com longas retas.
O frio, que era meu companheiro há vários dias, deu lugar à chuva, às vezes forte, às vezes fraca, às vezes acompanhada por neblina. A temperatura estava agradável, nem calor nem frio.
Durante uma parada em um posto YPF, tive que mexer mais uma vez na regulagem do pedal de câmbio, que não dava mais aperto e bambeou de um jeito que eu não conseguia passar as marchar para cima. Não entrava da segunda marcha pra cima. Perdi um tempo para retirá-lo e posicioná-lo mais baixo, onde, mesmo sem aperto, conseguiria passar as marchas.


A pista simples começou boa. Mas em uma parada para abastecimento em outro posto, onde todas as janelas eram cobertas por adesivos de aventureiros e motoclubes, fui alertado por caminhoneiros argentinos que encontraria à frente uma estrada sem sinalização, muitos remendos e trechos em obra com rípio (cascalho) e muitas costelas de vaca.
Antes do trecho ruim da estrada, uma Mercedes SLK 250 conversível, placa Argentina MAC140, me passou em alta velocidade. Mas quando chegamos ao trecho ruim e com suas rodas aro 20/21, ela passou a andar a 10 km/h. A Capitão América passou pelo trecho ruim a uns 70/80 km/h, navegando sobre os remendos. Ultrapassei e não vi mais essa Mercedes, hahha.
A noite chegou quando eu estava a cerca de 180 km do meu destino. E com a noite, muitos animais soltos à beira da pista. Com isso, cheguei à cidade de Monte Quemado - Argentina e resolvi parar na cidade e procurar um lugar para pernoitar. Fiquei em um hotel simples, sem desayuno. Serviu somente para passar a noite.


















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sábado, 23 de maio de 2015

A idéia era partir bem cedo da cidade de Tupiza rumo a San Salvador de Jujui (se pronuncia rurui). Estava preocupado com os trâmites de imigração e aduana, principalmente a saída da Bolívia e posteriormente de entrada na Argentina, na cidade de La Quiaca. Quando saí do centro de Tupiza e cheguei à carretera, ela estava fechada pela polícia local, pois estava para começar uma prova ciclística de velocidade, que duraria aproximadamente uma hora e não havia nenhum outro caminho alternativo para sair da cidade. O jeito foi esperar.
Havia um posto de gasolina bem na esquina do bloqueio. Parei a capitão América no posto, abasteci e como havia ainda muito tempo, aproveitei para uma pequena revisão: regulagem da corrente; conferência do nível de óleo; conferência dos cabos de comando; pressão dos pneus; ajuste do pedal de câmbio, que vinha me chateando; e reaperto geral.
Foi aí que surgiu um novo amigo, que foi meu companheiro no trecho Tupiza -> San Salvador de JuJuy, o Sigurd, da Noruega. Apareceu no posto me pedindo azeite (óleo) para lubrificar a corrente da moto dele. Emprestei o óleo e quando ele veio e estacionou a moto ao lado da capitão América, vi que o cara estava preparado para rodar muito. Estava com uma Kawasaki KLR 650 ano 2003 com placa dos EUA e com uns 50kg de bagagem, incluindo barraca e pneu reserva.
Ele me falou que veio da Noruega para os EUA, comprou a moto na Guatemala, percorreu toda a América Central até o Panamá, onde atravessou da Darian Gap em um navio até a Colômbia. Depois passou pelo equador, Peru, Bolívia e terminaria a viagem em Buenos Aires, vendendo a moto e retornando para casa. Vimos que teríamos o mesmo itinerário até JuJuy e combinamos de esperar a liberação da Ruta e tocarmos juntos.
Finalmente, um policial nos deu sinal que liberariam a pista. Posicionamos à frente da fila de carros, que também esperava. Um policial de moto pediu que ficássemos atrás dele, pois iria de batedor para garantir que a pista estava livre.
Partimos impacientes atrás do policial de moto, ele andando a 30/40 km/h e mais impacientes estavam os carros atrás da gente, principalmente uma caminhonete que seguia ao nosso lado, na pista da esquerda, exatamente atrás da moto do policial.
Em certo momento o policial aumentou a velocidade para uns 80 km/h. Pensei: "- beleza, vai nos liberar pra seguir sem ele". Mas parece que o radio de comunicação que ele levava à cintura chamou e ele reduziu a velocidade de uma vez. O cara da caminhonete, que seguia impaciente, estava bem colado na moto e nem freou, bateu na moto e, quando olhei pelo retrovisor, vi a moto sendo arrastada pelo parachoque dianteiro da camionete e o policial boliviano rolando no asfalto na frente. Eu havia tirado uma foto segundos antes desse acidente, que mostra o policial de moto à nossa frente. Pensamos em parar, mas não havia o que fazer. Alguns carros pararam para ajudar e com certeza o cara da caminhonete teria problemas sérios ali. Fiz sinal para o Sigurd e tocamos em frente.
Com a estrada livre e pista boa, andávamos muito bem. O norueguês, com o tratorzão dele, entrava forte nas curvas e a capitão América ia na cola. Havíamos combinado andar a 100/110 km/h, por isso consegui acompanhá-lo, senão ele me deixaria para trás.

Percorremos uma serrinha e depois grandes vales com vegetação rala e amarelada, sempre circundado pela cordilheira. A paisagem começou a apresentar uns morros e montanhas coloridos, como se fossem coloridos na horizontal, um visual bonito e muito diferente.

Chegamos a La Quiaca. Os trâmites de imigração e aduana bolivianos não levaram nem cinco minutos. Fiquei feliz e pensei: "- Vamos passar rápido hahahaha..." Fomos para a imigração Argentina. Tudo ok, passaportes carimbados. Mas faltava ainda a aduana para a entrada das motos. Ai começou a novela. O oficial da Aduana nos pediu o seguro Carta Verde para as motos, ou então uma prova que a seguradora das motos, no caso de termos seguro delas, tivesse as mesmas coberturas e especificasse a cobertura em território argentino, e foi taxativo: sem seguro, as motos não entram na Argentina. Como não tínhamos nem um nem outro, expliquei que estávamos vindo do Peru/Bolívia e que a ideia era fazer o seguro quando chegássemos à Fronteira. Ele concordou e nos orientou a deixar as motos na aduana e pegar um táxi até o centro onde havia um escritório de seguradora que faria o seguro carta verde.

Pegamos o taxi. Chegamos à seguradora em 5 minutos, mas as portas estavam fechadas. Tocamos na porta ao lado, um senhor nos explicou que fecharam as 14 horas. Eram 14h30 e que reabririam somente na terça-feira. Era sábado, domingo não abririam e na segunda-feira era feriado.
Somente consegui pensar: fudeu. 3 dias "presos" na fronteira. Sem opções, pegamos o taxi de volta para a fronteira. A corrida custou 40 bolivianos. Eu só pensava em alguma forma de convencer o oficial da aduana a nos liberar para fazer o seguro na próxima cidade que parássemos. O Sigurd seguia incrédulo com a situação.

Explicamos a situação, mas o oficial da aduana continuou irredutível. Sem seguro, as motos não entram. Mas se propôs a tentar uma outra solução: primeiro verificou a possibilidade de fazemos algum seguro na Bolívia que valesse para a Argentina, mas isso somente seria possível em Potosí ou Sucre, com retorno de centenas de quilômetros, sem garantia de que conseguiríamos achar um escritório aberto.
Veio a outra solução, um outro escritório de seguradora, onde a dona do escritório residia no mesmo local do escritório. O oficial foi taxativo, insistam para conseguirem, senão as motos não entram. Mais um táxi pra cidade. Chegamos no lugar indicado, batemos à porta e uma senhora apareceu. Pensei: ufa vamos conseguir hahaha... A senhora abriu "meia-porta", explicamos a situação, ela friamente respondeu que não fazia seguro de motos. Detalhamos melhor nossa situação, eu pensei em pedir de joelhos, mas a senhora, a cada negativa, fechava um pouco mais a porta kkk...
Pedimos para fazer um seguro de carro com os dados da moto, mas ela negou e o pouco de porta que restava aberta foi fechado Na nossa cara.
Voltamos ao primeiro escritório, meio que no desespero, tocamos numa casa vizinha, um senhor atendeu e após ouvir nossas explicações, nos deu o "não" final. Explicou que a pessoa responsável pelo seguro já havia ido embora e mesmo que ela estivesse não conseguiríamos, pois a emissão dependia de autorização do escritório central em Buenos Aires, e que lá as atividades já estavam encerradas também.
Taxi de volta para a fronteira, o Sigurd me perguntou se eu tinha alguma ideia. Eu comecei a pensar nos amigos (Halfa, Kiko Santos, Boca, Felipao, Genildao, Fred, Thiago, Juliano, Elisio, Ranieri, Cabral, Marcelo Kawasaki etc), que poderiam tentar fazer no Brasil o seguro carta verde e enviar via fax para a fronteira. Precisava de uma conexão wi-fi e sorte para que no Brasil, sábado, às 16 horas, ainda conseguíssemos fazer. Também pensei no Dr. Cantinho, pois poderíamos tentar entrar na marra e se a Polícia Federal Argentina nos prendesse, o advogado dos Sucuris teria que vir para a Argentina pra nos soltar hahahaha.
Voltamos à fronteira. Guardei minha última cartada na manga. Explicamos a situação para o oficial, que queríamos fazer o seguro, mas não havia como fazer ali e que não podíamos ficar três dias parados naquele lugar. Ele pediu para esperarmos e entrou num local restrito da aduana.
Enquanto esperávamos percebi que uma senhora da aduana estava sensibilizada com nossa situação. Fui conversar com ela e perguntei se não poderia nos ajudar, interceder de alguma forma. Ela pediu para esperamos. Nossa sorte estava em jogo. Ela saiu do local restrito e nos pediu para segui-la. O coordenador da aduana havia nos liberado para seguir viagem até um Local onde poderíamos fazer o seguro. Ufaaa.


Liberados. Ainda retornamos à pé até a Bolívia para fazer Câmbio e entramos na Argentina, após longas três horas na fronteira. Ainda perdemos uma hora devido à diferença de fuso entre a Bolívia e a Argentina. O fuso horário na Argentina é igual ao do Brasil.
Algumas considerações
1) o Seguro carta verde é contratado por quantidade de dias. É normal deixar para fazer na fronteira, quando se está numa viagem longa e não há certeza sobre que dia entrará ou sairá do país (no caso Argentina). Foi o procedimento que adotei no Peru com o seguro SOAT.
2) se não houvesse o bloqueio da saída da cidade de Tupiza para a prova ciclística por uma hora, teríamos chegado a tempo a La Quiaca para fazermos o seguro. O escritório fechou as 14 horas e chegamos na porta às 14h30.
Paramos no primeiro posto para abastecer. Bandeira YPF, nafta (gasolina) com 97 octanas por 14 pesos o litro e 85 octanas por 13 pesos argentinos o litro. Us$ 1,00 = 13 pesos argentinos.
Partimos abastecidos por uma boa estrada, mas com muito trânsito, principalmente carros particulares. Passamos por vários bloqueios polícias, que normalmente acontecem nas entradas ou saídas das cidades. Em dois deles nos pararam, mas quando viram que éramos estrangeiros, nos mandaram prosseguir. No último, o policial, ao ver a placa brasileira e a cidade Belo Horizonte me perguntou: és crussero? Respondi: Nooo, sou Atlético Mineiro. Ele respondeu: Soy River. Pase. Só pensei ufaaaa hahahaha.
Em certo momento, pegamos um vento frontal muito forte que reduziu a velocidade em uns 10 a 15km/h. Quando vinha de lado, nos Obrigava a inclinar a moto nas retas para vencer a resistência. E assim, brigando com o vento, a noite chegou e também a cidade de San Salvador de JuJuy urruuuullll.
Novo abastecimento dentro da cidade e indicação de um local para comer algo, o Sigurd entrou na cidade para também fazer um lanche e depois seguiria para a cidade de Salta. Eu dormiria em JuJuy.
Chegamos à porta do restaurante La Candelária, que só abriria mais tarde, às 21 horas. Resolvermos ir a outro. Quando o Sigurd foi montar na sua moto, ela tombou. Juntamos nós dois para levantá-la. Deus do Céu, aquela moto parecia pesar uma tonelada com toda aquela bagagem.
Comemoramos a entrada na Argentina com água e empanadas.


Após o lanche, meu amigo norueguês partiu rumo a Salta e eu fui procurar um hotel. O cansaço havia me feito escolher possivelmente um dos piores hotéis da cidadezinha de JuJuy e o pior de toda minha viagem, com um quarto minúsculo cheirando a mofo. O jeito foi tentar dormir com as janelas abertas.
Que dia. No final tudo certo. Deus está no comando.

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