sábado, 5 de setembro de 2015

Começando a escrever um pouco sobre motocicletas que já pilotei...minhas impressões, comparações, recomendações...

Hoje vou contar um pouquinho sobre como é pilotar uma Harley Davidson Fat Boy (ano 2010),

Tive o prazer de desfrutar de um final de semana com uma Fat Boy na garagem... não há como não associar essa motocicleta ao filme Exterminador do Futuro 2 (Terminator 2 ) onde o Arnold Schwarzenegger pilota essa moto em cenas fantásticas.



Com a moto na garagem, comecei a olhar os detalhes, ou melhor admirá-la, essa Fat Boy é uma verdadeira obra de arte construída em metal, muitos cromados, e um guidão aberto e estiloso, é uma motocicleta linda...transmite uma verdadeira impressão de robustez, de uma máquina criada para durar e rodar por centenas de milhares de quilômetros. 



O motor V2 (twin cam 96B) com os 2 cilindros inclinados a 45 graus, parece uma peça de arte moderna, é show... é um motor de 1585cc sem preocupação em possuir grande cavalaria, a Harley não divulga a potência mas em testes independentes mediram 90CV nesse motor com um torque monstro e em baixíssima rotação de 12,95 kgm.f (3000rpm), isso se traduz em muita força desde as baixas rotações o que permite rodar em 6 marcha tranquilamente a 40km/h. 


Montado na moto, para quem não está acostumado a um moto custom, chama a atenção a posição de pilotagem, o guidão aberto, o conforto do banco estilo sofá da sala, a baixa altura do banco em relação ao solo (apenas 690mm) que permite aos baixinhos encostarem os pés no chão tranquilamente, as plataformas que servem de apoio para os pés (no lugar das tradicionais pedaleiras) te mantém numa posição sentado com os braços flexionados a frente, e também estranha-se num primeiro momento os comandos dos pés, freio e câmbio com posição mais a frente em relação a outros estilos de motocicletas.




Os instrumentos (Velocímetro analógico, hodômetro digtial) sobre o tanque, a tampa do tanque de um lado e o marcador analógico de nível do combustível do outro, e somente o farol bem grande lá na frente... fazem brotar na memória cenas do filme com o exterminador pilotando a Fat Boy.


A pintura do tanque é de extrema qualidade e bom gosto, pelo que consta os tanques são pintados e polidos a mão, um dos mitos/verdades sobre a Harley e suas motocicletas.

Antes de contar como foi rodar com a Fat Boy, vamos falar um pouquinho da história dela, e dos mitos que a cercam.  A história da Harley Fat Boy se confunde com a própria história da Harley Davidson, foi essa motocicleta que fez a Harley ressurgir na decáda de 90, para chegar hoje como uma marca reconhecida e valorizada globalmente. 




A Harley Davidson surgiu em um barracão em 1903 com os quatro irmãos Davidson e mais um sócio, em 1961 a Harley-Davidson foi comprada por um grupo chamado AMF, nesse período sobre a administração da AMF a Harley viu ano a ano suas vendas decaírem devido a queda de qualidade das motos produzidas e a invasão de motos japonesas e europeias no mercado americano, que eram mais baratas e possuíam mais qualidade,  a Harley esteve a beira da falência. Em 1981 foi revendida por 80 milhões de dólares para um grupo de investidores, dentre eles Willie G. Davidson, após 6 anos de projeto foi lançada em 1990 a Harley Davidson Fat Boy FLSTF.... em 1986 a Harley valia 7 bilhões de dólares, quase 100 vezes mais do que o valor pago em 1981.




A lenda ou mito sobre a Fat Boy a associa as bombas atômicas lançadas sobre o Japão, e é claro que a Harley não confirma essa lenda/mito/história politicamente incorreta.


  1. As primeiras 1.440 Fat Boys foram produzidas na cor prata, mesma cor da fuselagem dos bombardeiros B-29 que carregaram as bombas atômicas
  2. Os nomes das bombas atômicas lançadas em Hiroshima e Nagasaki no Japão eram "Fat Man" e "Little Boy", que numa junção teríamos "Fat Boy" (traduzido como Garoto Gordo).
  3. As rodas inteiriças da Fat Boy com os bullets (buracos de bala) se assemelham as rodas do B-29 que possuem os mesmos furos
  4. A Fat Boy foi a motocicleta projetada e lançada no mercado americano na década de 90 para combater a invasão das motocicletas japonesas naquele mercado.



Bombardeiro B-29 cor Prata

Roda do bombardeiro B-29 com furos semelhantes a roda da Fat Boy

Bomba Fat Man

Bomba Little Boy


Contada a lenda, melhor pensar na Fat Boy como a moto do Exterminador do Futuro, e não como uma referência às guerras que são o maior erro da humanidade.

O ator Arnold Schwarzenegger gostou tanto da Harley que tem uma, após deixar o cargo de Governador da Califórnia, era sempre flagrado pilotando sua moto, na foto abaixo o ator passendo por Malibu.





E como é andar na Fat Boy?  O primeiro passo é montar e tirá-la do descanso, e não é tarefa fácil até se acostumar, a Fat Boy pesa 318kg a seco e 331kg em ordem de marcha (com óleo, fluído de freio, gasolina)...Garoto Gordo rs... e é preciso um certo esforço para colocá-la pronta para a partida, acionada a partida o coração dispara com a sinfonia dos V2, em determinada época a Harley tentou patentear o som dos seus motores mas após processos das demais montadoras de motocicletas desistiu da patente, o som do motor é maravilhoso... engatada a primeira marcha... vamos rodar.

A Fat Boy é uma moto pesada, baixa, comprida, apesar dessas características darem medo de enfrentar o trânsito urbano, ela tem uma pilotagem dócil, ótima posição de pilotagem e o peso praticamente desaparece em movimento, o câmbio é ruidoso e ela esquenta bastante em trânsito urbano, não dá pra entrar com ela em qualquer corredor, e o guidão esterça pouco para manobras em baixa velocidade, mas se eu tivesse uma Fat Boy, a usaria tranquilamente para ir trabalhar, é uma moto prazerosa de se pilotar.

Pegando a estrada, o habitat natural da Fat Boy, ela mostra suas melhores características, muito torque pra passear sem se preocupar com a velocidade, o guidão e ausência de painel sobre o farol, somados ao som do V2 transmitem uma sensação única de pilotagem, não é atoa que essa é uma das Harleys mais vendidas em todo o mundo. A vontade quando se está na estrada é de pilotar sem destino por centenas de quilômetros. Não é a posição mais racional como numa big trail, mas é confortável. Uma das coisas mais interessantes nesse modelo que pilotei (2010) é que o bojo (cobertura) do farol é cromado, com isso quando se está pilotando você vê sua própria imagem refletida ali, junto com parte do céu e parte da estrada, é muito legal.

Ela tem freios eficientes e suspensão bem macia, a Fat Boy pertence a família Harley SoftTail (rabo mole rs), que signica suspensão traseira escondida para dar a falsa impressão da moto não possuir amortecimento traseiro como as primeiras motos hardtail (rabo duro rs). Mesmo com essa suspensão, as irregularidades do piso são bem transmitidas para o piloto, imagino que em longos trechos com asfalto ruim o cansaço deve bater no piloto mais rápido, em asfalto bom a moto é perfeita.

Toda essa história da Fat Boy, as qualidades da motocicleta, fazem com que a Harley agregue valor ao produto, e como dizem a Harley consegue vender aço ao mesmo preço de titânio e fibra de carbono, traduzindo uma Harley custa o mesmo ou até mais do que algumas motos (japonesas e europeias) que possuem mais tecnologia, e mesmo assim, a Harley vende mais... quem compra uma Harley não compra somente uma motocicleta, compra um estilo de vida... tem a possibilidade de se associar ao HOG (Harley Owner Group) e isso significa ser aceito em um grupo com milhares de integrantes pelo mundo, e com passeios organizados semanalmente pela própria Harley e seus concessionários. Interessante como essa moto chama atenção pelas ruas... as pessoas já vem perguntando é uma Harley? É a moto do exterminador? É claro que é rs.

Quanto custa? A Harley Fat Boy zero km está cotada a R$55.6mil (Black Vivid). Uma usadinha como a que eu pilotei (ano 2010) custa na faixa dos R$40mil. ( Os modelos a partir de 2011 incorporaram freios ABS e alarme com imobilizador de série)

O que gostei: É pilotar o mito, a Fat Boy é a máquina da Harley, a posição do guidão, o som do V2 numa verdadeira sinfonia pela estrada.


O que não gostei: É uma moto do estilo custom, ou você ama ou você odeia, isso significa que ela possui determinadas características: Peso, comprimento e tamanho que dificultam em trechos de curvas e no trânsito urbano, é uma moto de muito torque.